Para Discordar, o Primeiro Passo é Concordar

Um dos fortes instintos de todos os seres humanos é o de achar que está com a razão. As pessoas desenvolvem suas próprias ideias, raciocínios e, obviamente, acreditam que chegaram à conclusão verídica.

Quando nos deparamos com um ponto de vista diferente do nosso, ou ainda, quando trabalhamos em algum setor onde a natureza do nosso trabalho inclui fazer alguém mudar de ideia, é muito importante entender o processo e ser capaz de lidar com ele.

É um verdadeiro tiro no pé bombardear a outra pessoa apontando erros no raciocínio dela ou tentando fazê-la aceitar seus argumentos à força. Qualquer dessas atitudes colocará a outra pessoa na defensiva. Ou seja, fará com que a pessoa se feche no seu ponto de vista, impedindo que ela mude de ideia por motivos de orgulho.

Para convencer alguém a mudar de ideia – por mais estranho que pareça – o primeiro passo é concordar. Sim, concordar.

Todo posicionamento, toda a ideia possui um fundo de verdade. Se analisarmos a situação sob a ótica da outra pessoa, certamente encontraremos algo que faz sentido (obviamente, isso não se aplica à opiniões preconceituosas, criminosas, etc).

Concordando com este ponto de vista, você imediatamente estabelece uma conexão com a outra pessoa, pois ela se sentirá prestigiada e compreendida. Agora é hora de fazê-la mudar de ideia. Não antes disso.

Todos possuem amor próprio. Ninguém gosta da ideia de “engolir” uma conclusão pronta vinda de outra pessoa. É muito mais fácil seguir uma ideia própria.

Assim, chega-se ao segundo passo: mostrar à outra pessoa o ponto de vista que ela ainda não enxergou – aquele que vai fazê-la mudar de ideia efetivamente. Ou seja, não se confronta diretamente a ideia dela, apenas se demonstra o outro lado da moeda deixando claro que o ponto de vista dela também faz sentido.

Por exemplo:

Pessoa A: “O uso de armas de fogo é o maior responsável pelos assassinatos que ocorrem no Brasil. Quanto menos armas em circulação, melhor!”

Pessoa B: “De fato, concordo com você que a circulação indiscriminada de armas de fogo é um problema e contribuiu muito para o quadro de violência atual… Quanto menos armas nas mãos de marginais melhor. Mas o detalhe é que as armas que estão nas mãos destes indivíduos vêm do contrabando. Elas continuarão entrando no país e aumentando a criminalidade independente de legislação. Já o porte de arma que defendemos é o regularizado, somente acessível para pessoas sem ficha criminal. Essa triagem seria feita pela Polícia Federal antes mesmo da aquisição…”

Pessoa A: “hmm… pensando por esse lado é verdade”

Nesse exemplo a pessoa “B” apresenta o lado oposto deixando margem para a pessoa “A” concordar sem ter que admitir que estava errada. Esse é o grande macete.

Quando feito corretamente, a outra pessoa chegará automaticamente à conclusão que você deseja, fazendo com que ela fique ainda mais comprometida com o novo ponto de vista.

Trata-se de um processo sutil, que exige bom senso, empatia e paciência com o outro.

Essa forma de abordar as divergências não é nova. Ela vem sendo desenvolvida por filósofos ao longo dos séculos. A conclusão unânime é: ao invés de discordar frontalmente, deve-se entender o ponto de vista da outra pessoa, concordar e mostrar o ponto de vista que ela não enxergou, dando margem para que ela não se sinta “encurralada”. Assim a outra pessoa se sentirá importante, absorverá e seguirá a sua ideia como se tivesse partido dela.

9 Comments

  1. Erlania

    Bom dia!! Muito interessante essa forma de fazer uma pessoa mudar uma opinião formada sobre algo, apesar de que já tenho um pouco desse poder de persuasão.
    O livro deve ser muito interessante, vou comprar com certeza.

    • Renan

      Olá Erlania!

      Muito obrigado pelo seu feedback.

      Forte abraço!

  2. Leonardo

    Muito bom e eficiente. Busco sempre aprender mais em relação a esse tipo de assunto pois vejo que ainda tenho muitas dificuldades nisso. Que Deus abençoe esse projeto e que ajude muitas pessoas cada vez mais. Me ajudou bastante, agora é só colocar cada vez mais em prática.

    • Renan Phelipe

      Olá Leonardo!

      Muito obrigado pelo seu feedback.

      Forte abraço!

  3. Antônio

    Muito bom suas dicas, estou tentando muito me aprofundar sobre este tema apesar de ser uma pessoa muito difícil, preciso muito de ajuda sobre isso!

    • Renan Phelipe

      Olá Antônio!

      Seja muito bem vindo. Obrigado pelo seu feedback!

      Forte abraço!

  4. Marcelo Brando Junior

    Concordo plenamente com a eficácia da técnica de criar uma conexão empática com a pessoa de uma opinião contrária, para assim fazer valer nossa opinião sem maiores embates ou grandes estresses. Assim como percebo um alerta, vendo a técnica por outra ótica, o que não caracteriza uma falha na mesma, mas somente uma possível fragilidade. Entendo que conexões são imprescindíveis para a arte da persuasão, mas que não esqueçamos que sem um ideal nobre como causa da prática desta técnica, corremos o risco de nos tornarmos meros “ditadores psíquicos”, manipuladores de ideias e corruptores de ideais alheios… Deixo aqui três perguntas que podem trazer mais combustível para o debate deste tema tão instigante: Quem define qual verdade ou opinião deve ser entendida como predominantes às demais? Como ficariam as interlocuções e os debates saudáveis de ideias divergentes (de suma importância para o crescimento social, político e moral para o indivíduo humano e para a sociedade como um todo) se todos dominassem tal técnica? E enfim: Existem limites éticos na prática da persuasão intencional?
    No mais, ótimo texto…. e manipulem com moderação 😉

    • Renan Phelipe

      Olá Marcelo!

      Obrigado pelo seu feedback e por sua contribuição inteligente para o tema.

      Respondendo às suas perguntas:

      1) Quem define qual verdade ou opinião deve ser entendida como predominantes às demais?
      Sua pergunta traz à tona uma discussão muito antiga que é: a “verdade” é algo absoluto ou algo relativo? De forma imparcial, ninguém tem o “direito” de impor o que é verdadeiro ou não é. O que observamos acontecer na prática: a pessoa que tem a maior experiência/conhecimento a respeito de um determinado assunto consegue formar argumentos melhores e, normalmente (nem sempre), ficar com a palavra final, a “verdade”. Porém, o fato de você persuadir alguém com sucesso não significa que você esteja advogando em nome da verdade. Infelizmente, nem sempre é necessário estar bem intencionado para ser persuasivo.

      2) Como ficariam as interlocuções e os debates saudáveis de ideias divergentes se todos dominassem tal técnica?
      Eles continuariam existindo normalmente, afinal, a intenção da técnica é eliminar os atritos sociais que naturalmente existem em uma discordância e não eliminar o debate em si. A técnica tem que estar acompanhada de bons argumentos para ser eficaz, porém, até os bons argumentos serão completamente ignorados por alguém que se sinta contrariado de forma agressiva, sendo forçado a admitir que está errado. Por isso ela é fundamental. No seu próprio comentário você usou a técnica corretamente gerando uma discussão saudável. A intenção da técnica é deixar a outra pessoa aberta ao seu ponto de vista, que, por sua vez, pode ou não ser persuasivo.

      3) Existem limites éticos na prática da persuasão intencional?
      Sim. O limite é justamente a diferença entre persuasão e manipulação. Persuadir significa aplicar as técnicas de persuasão com boas intenções; convencer alguém de algo que será benéfico para ambos. Já manipular visa o egoísmo e o descaso com a outra pessoa. Pessoalmente, sou veementemente contra a manipulação.

      Novamente lhe agradeço pelo feedback. Espero ter contribuído de forma positiva.

      PS: as respostas acima refletem minhas opiniões e experiências pessoais. Como eu mesmo citei, não tenho o direito de impor o que é verdade ou não…

      Forte abraço!

  5. Muito bom eu fui ler pq me mandaram ler esse testo da atividade da escola mas e muito bom parabéns👏👏👏👏👏

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