5 Padrões de Argumento que Influenciam Nações

 

Debates em rede nacional… seções abertas… cerimônias… comícios eletivos… preparar discursos cheios de recursos de persuasão é um dever de casa diário para os políticos.

Observando atentamente os discursos proferidos por estas pessoas, é possível identificar que existem alguns padrões de argumento favoritos; são usados no Brasil, fora dele e, com certeza, em qualquer planeta habitado por uma civilização onde exista política.

Bandeiras e ideologias à parte, existem algumas lições interessantes que podem ser extraídas deste processo. Somos todos adultos. Nós sabemos que estas estratégias são usadas repetidamente simplesmente por que funcionam.

Afinal, o que é um bom argumento?

É o bem intencionado? O que possui estatística? Ou aquele que convence?

Ou então, mudando um pouco a pergunta: é preciso estar advogando em nome da verdade para ser convincente? Não sei… Eu tenho minhas dúvidas.

Neste artigo, gostaria de mostrar a você 5 padrões de argumento usados com alarmante frequência por políticos do mundo inteiro, assim, você irá perceber facilmente quando uma dessas figuras estiver tentando usá-los para manipular você novamente.

Para exemplificar as técnicas usadas, repliquei trechos utilizados por Donald Trump em sua caminhada à Casa Branca, pois a polêmica envolvendo sua campanha eleitoral e cada movimento do seu início de governo tem sido objeto de muito interesse da grande mídia e do público recentemente.

Obviamente, os recursos de persuasão descritos a seguir não são exclusivos de Trump. Políticos brasileiros e de todas as nacionalidades os utilizam à exaustão. Vamos a eles…

1. Apelo ao Medo

Ah… O bom e velho medo. Ele caminha de mãos dadas conosco. Ele está lá quando vamos mudar de emprego… Quando vamos empreender; entrar num relacionamento; sair de um relacionamento…

Ele é nosso velho conhecido e, mesmo assim, possui um poder de influência silencioso sobre nós. Muitas decisões importantes em nossa vida são tomadas com base em medo, muito embora não gostemos de admitir isso.

Os líderes de estado sabem disso. Na verdade, eles adoram isso. Crise… inflação… desemprego… terrorismo… São tantas formas fáceis de evocar o medo que chega ser até maçante.

Por exemplo, veja estas declarações feitas por Donald Trump na época das campanhas eleitorais para a presidência:

“Existe muito ódio contra os americanos por grande parte da população Muçulmana. Vai ficar cada vez pior. Vocês terão mais World Trade Centers” – Donald Trump – 05/12/2015

No episódio do massacre em Orlando ocorrido em 12/06/2016, Trump aproveitou o timing para ganhar alguns eleitores:

“Isso [o terrorismo] não é mais um problema de segurança nacional. É um problema de qualidade de vida. Se queremos proteger a qualidade de vida de todos os americanos – mulheres e crianças, gays e heteros, Judeus e Cristãos e todas as pessoas – então precisamos falar a verdade sobre o Islamismo radical imediatamente” – Donald Trump – 12/06/2016

Verdadeiro? Dificilmente…

Persuasivo? Muito. Em meu treinamento eu explico em detalhes por que esse tipo de argumento que apela ao medo funciona tão bem.

2. Apelo ao desconhecimento

Quando um conhecimento comum é combinado com uma suposição sem nenhuma comprovação, apela-se ao desconhecimento.

É uma espécie de aposta, mas nos casos em que o interlocutor realmente não tem nenhuma informação para contrariar o que foi dito – diga-se de passagem, na grande maioria das vezes – pode ser bastante persuasivo.

Exemplo:
“[A imigração ilegal] está vindo de toda América Latina e América do Sul e provavelmente também está vindo do Oriente Médio. Mas nós não sabemos [de onde vem] por que não temos nenhuma proteção” – Donald Trump – New York, N.Y., 16/06/2016

Observe:

Fato de conhecimento comum: existe imigração ilegal nos EUA.
Suposição: está vindo de toda América Latina e América do Sul e provavelmente do Oriente Médio.

Verdadeiro? Talvez sim, talvez não. Sem dados, não há como provar.

Persuasivo? Bastante. Afinal, pouquíssimos americanos – senão zero – são favoráveis à imigração ilegal. Todo o resto do país associa imigração ilegal a desemprego, criminalidade, vandalismo e separatismo, e será persuadido por um argumento como este, não importa o quão infundado ele seja.

3. Ladeira escorregadia…

Esta forma de argumento – muito comum entre políticos – vai um pouco além da forma anterior. Parte de um pressuposto e faz uma sucessão de suposições cada vez mais exageradas e indesejadas. A forma mais comum é: “se nós permitirmos que X aconteça, Y e depois Z acontecerão no futuro”.

Exemplo usado por Donald Trump:
“Vocês sabem o que vai acontecer… Eles [Ford Motors] vão construir uma fábrica [no México] e os imigrantes ilegais atravessarão a fronteira com esses carros. Eles provavelmente vão acabar roubando esses carros e ficará por isso mesmo.” Donald Trump – Burlington, Vermont – 21/10/2015

Pressuposto: A Ford abrirá uma fábrica no México.
Suposição 1: Imigrantes ilegais irão atravessar a fronteira dos EUA/México com carros fabricados na nova planta da Ford.
Suposição 2: Os imigrantes ilegais que supostamente entraram nos EUA roubarão os carros com os quais entraram no país.
Suposição 3 (implícita): Aumentará a criminalidade e a imigração ilegal nos EUA.

Verdadeiro? Não. Persuasivo? Sim, graças ao medo e ao separatismo presente em grande parte da população.

4. Anedota

Histórias, exemplos e metáforas podem ser muito bem empregados para aumentar o poder de persuasão de um argumento. Aliás, exemplificar da forma correta é uma das formas mais legítimas e úteis de persuasão bem intencionada. No meu treinamento eu falo em detalhes sobre isso.

Porém, qualquer um destes recursos tem o potencial de induzir as pessoas a uma conclusão que não tem qualquer base em realidade se utilizados com más intenções. Por exemplo:

“Muitas pessoas estão dizendo agora que eu conquistei a Carolina do Sul por causa do último debate. Eu mostrei raiva, e as pessoas desse país estão com muita raiva” – Donald Trump via Twitter – 22/02/2016

“Eu derroto a China o tempo todo” – Donald Trump, New York, N.Y. – 16/06/2016

Por mais estranho que possa ser, as pessoas tendem a confiar mais na palavra das pessoas conhecidas do que em dados concretos. Na verdade, confiar em pessoas conhecidas é um atalho mental que surgiu durante a evolução da espécie com o intuito de evitar o trabalho duro de julgar cada situação criteriosamente. No meu treinamento eu mostro como isso funciona e como você pode utilizar esse princípio em seu favor.

Por isso, tenha cuidado quando ouvir seu melhor amigo falar algo como: “Meu avô bebia cachaça todo dia até seu último dia de vida… Viveu muito bem até os 86 anos. Esse papo de que álcool provoca dependência e cirrose hepática é bastante exagerado pela mídia manipuladora”

5. Espantalho

Por último, mas não menos importante, a técnica do espantalho – uma das mais utilizadas. Como o próprio nome já sugere, o objetivo dela é desqualificar um oponente e torna-lo um espantalho perante o público.

Sua aplicação é bastante simples: basta selecionar algumas declarações feitas pela pessoa-alvo, distorcê-las, interpretá-las de uma forma totalmente caricaturada e… voilà… Imediatamente, você se torna uma pessoa muito mais coerente e sensata em contraste com o seu oponente.

Observe que não estou encorajando nenhuma dessas práticas, apenas estou mostrando como elas funcionam…

Por exemplo:
“Hillary Clinton quer abolir a Segunda Emenda. Hillary Clinton quer tirar as armas de vocês e abolir a Segunda Emenda” – Donald Trump, Lynden, Washington – 07/05/2016

“Os defensores ferrenhos do controle de armas talvez não consigam tudo o que querem. E as pessoas que acham que deveriam ter um lançador de mísseis no quintal como um direito constitucional talvez não o consigam” – Senador Bernie Sanders – 07/11/2015

Resumindo: distorça ao máximo as declarações feitas pela pessoa-alvo a ponto de serem absurdas e, em seguida, ataque-a. Depois, mostre o quanto você é mais cauteloso e coerente. Pronto! Você acabou de usar uma das técnicas favoritas – e mais eficazes – dos políticos do mundo todo.

6. Ad Hominem (bônus)

Quase ia me esquecendo. Ele é muito importante para ser deixado de lado.

O argumento Ad Hominem é extremamente simples, eficiente e de baixo nível. Para utilizá-lo, basta ofender algum atributo pessoal com o intuito de desqualificar um oponente, parecido com a técnica anterior. Por exemplo:

“Já imaginaram aquilo, sendo o rosto do nosso próximo presidente?! Quero dizer, ela é uma mulher, eu não deveria falar mal dela, mas pessoal, vamos lá… vocês estão falando sério?” – Donald Trump falando sobre a candidata rival Carly Fiorina em uma entrevista à revista Rolling Stone em Setembro de 2015.

Nos últimos 3 ou 4 anos no Brasil (desde o início da Operação Lava-Jato e as delações premiadas) ouvimos o Ad Hominem ser dito mais vezes do que em toda história do mundo somada. Vai dizer que isso não soa lhe familiar?

“não há nenhuma prova do meu envolvimento com algum ato ilícito. Há apenas as alegações de um criminoso condenado”.

Pois é…

Voltando à questão inicial…

Todos esses recursos de retórica usados exaustivamente, obviamente funcionam. Funcionaram para Donald Trump e para uma população inteira de políticos do passado e do presente.

O grande problema é que, quando se usa essas e outras técnicas não é necessário existir qualquer verdade dentro do argumento para que ele se torne tentador e persuasivo. A estatística, a ciência e a história nos provam isso.

Portanto, se você já está com as técnicas na ponta da língua e pronto para dominar o mundo, que o faça para o bem, não siga os maus exemplos que existem por aí.

Afinal, a persuasão bem intencionada é uma arte. Você consegue fazer as pessoas dizerem “sim” para elas mesmas, abraçar ótimas oportunidades que normalmente não abraçariam. Você torna todas as interações diárias mais simples, prazerosas e muito mais.